Número Aniversario (10
años!!) - Noviembre 2008
Oficina de
memoria. A cultura popular em reminiscencias.
Filhas de imigrantes lituanos
Maristela H. B. Forli Catanoso
stelaforli@yahoo.com.brA Oficina de Memória: A Cultura Popular em Reminiscências foi idealizada no ano de 2001, durante o curso de Memória Autobiográfica: Teoria e Prática, oferecido pelo Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento NEPE - da PUCSP, sob coordenação da Dra Profa Vera Tordino Brandão. e aprimorada a partir das pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos da Memória - GEM. O conteúdo proposto nessa oficina surgiu de uma articulação entre Psicologia, Psicopedagogia, Folclore e Gerontologia
Este trabalho tem como objetivo específico o resgate da cultura popular, passada através das gerações, reconhecida através de ações do cotidiano, onde a manutenção das tradições culturais são respeitadas e valorizadas, favorecendo o auto reconhecimento e a qualidade de vida
Em seu contexto de Oficina, o trabalho se propõe a outros objetivos como favorecer o enriquecimento do conhecimento, a valorização da tradição cultural de cada indivíduo, a ampliação de informações, a troca de experiências, a auto descoberta, o repensar do passado de forma lúdica e divertida e a ampliação do relacionamento interpessoal.
Em 2007 foi possível a realização da Oficina de Memória com integrantes da Comunidade Lituano Brasileira: filhas de imigrantes lituanos radicados no Estado de São Paulo e residentes no Bairro de Vila Zelina, num total de oito mulheres de faixa etária entre 65 e 80 anos, quando foi realizado o registro de depoimentos das integrantes do grupo sobre temas do folclore lituano e a confecção de um caderno de lembranças.
Fizeram parte do
grupo:, Angelina Dirse Tatarunas, Aldona Bareisis, Wanda
Vosylius, Elena Butkus,
Maria Garkauskas,.Albina Buk, Aldonia Buk Forli e Eugenia
Bacevicius.
Algumas integrantes do grupo fazem parte de atividades da comunidade lituana em Vila Zelina, entre as quais pode-se destacar o coral lituano, a barraca lituana da festa de São José, realizada em março pela igreja do bairro, a festa da Primavera realizada em outubro no condomínio Lituânica, em Atibaia, entre outros eventos que simbolizam um marco para a continuidade e divulgação desta cultura.
Cada encontro da Oficina de Memória focalizou um tema: História do Nome, Comunicação, Usos e costumes, Ritos de Passagem, Brincadeiras infantis, Superstições e Crendices populares, Música e Culinária.
No início das reuniões o grupo contou suas histórias de infãncia e juventude, focalizando também a chegada de seus pais ao Brasil, como conta Wanda: Quando meus pais vieram foram para Igarapava, era uma usina de cana de açúcar. Meu pai fiscalizava os funcionários e a minha mãe pra fazer um dinheiro começou a fazer comida pro pessoal.
Muitos costumes foram citados, destacando-se a comemoração da Páscoa, quando as integrantes se empolgaram trazendo narrativas emocionadas:
Aldonia: Na Páscoa pintava os ovos, fervia com aqueles papel crepom ou pintava.
Maria: Põe pra ferver os ovos, e joga casca de cebola por cima, na água e deixa ferver. Depois desenha.
Aldona: Tomavam café com leite e pão doce. Era bastante bolo. Ia em jejum pra missa. Era as 6 horas da manhã e a gente ia na procissão. E a procissão não era só perto da igreja no largo, era pela Rua Campos Novos, dava toda aquela volta, mas tinha muita gente.
Albina: Eu lembro da hostia branca, em pedaços emcima da travessa de geleia de jaboticava, então sobressaia. E faziamos na sala, na mesa de jantar que era grande.
Angelina: Meu pai tinha padaria na Vila Zelina. É o criador do pão preto.
Outro destaque se encontra no depoimento de Elena quando nos diz: Minha mãe cantava muito. Ela falou que lituano cantava quanto tava arrancando matinho, as ervas daninhas do jardim, da horta, quando tá trabalhando na roça, em todo lugar eles cantam, e cantam e cantam. Na igreja canta, em casa canta, no inverno senta todo mundo e fica fazendo trico ou croche e todo mundo cantando. Diz que o canto acompanha a vida do lituano.
Atualmente a missa de Páscoa em lituano continua sendo às 6 horas da manhã na Igreja de Vila Zelina. O coral lituano apresenta sua cantata de Natal na mesma igreja antes da missa em lituano e é constante sua presença nas missas festivas, como a de São Casemiro e Nossa Senhora de Siluva.
A rica troca de informações entre os participantes dos grupos propiciou a compreensão da importância da manutenção e transmissão das tradições culturais, de geração a geração, fortalecendo os vínculos identitários e comunitários dos descendentes, indicando a memória cultural autobiográfica como elemento dinamizador da qualidade de vida no envelhecimento.
Desta forma foi possivel admirar e reconhecer a beleza presente nos costumes deste povo, assim como sua força e união para a continuidade e divulgação de suas tradições.
O tempo cronológico deixou para trás os acontecimentos, mas o tempo vivido continua presente dentro da memória de cada um, podendo ressurgir a qualquer momento tão vivo quanto na sua primeira vez, pois as emoções se repetem e trazem expressões significativas para aquele que as revive, permitindo que novos momentos sejam construidos a partir do que ficou conhecido.
Bibliografia -
BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória. Ensaios de Psicologia Social. São Paulo, Ateliê Editorial, 2003.
Brandão, Vera M.A.T. Memória Autobiográfica: Reflexões. In Corte, B; Mercadante, E; Arcuri, I. Complex(idade). Velhice e Envelhecimento. São Paulo: Vetor, 2005. LIMA,
Rossini Tavares de e ANDRADE, Julieta. Escola de Folclore, Brasil. São Paulo: Livramento, 1979.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Variações sobre a técnica do gravador no registro da informação viva. São Paulo:T.A.Queiroz Editor, 2004.