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Número 10 - Junio 2002

TIEMPO de ReCriar

Leonor S. Palma
Leonor.S.Palma@seg-social.pt

"É necessário estimular a invenção da velhice, delegando-a o menos possível, considerando-a um momento de um percurso de vida consolidado, mas ainda aberto à mudança, potenciando a valorização do passado e a abertura ao futuro".

Inventare la vecchiaia

Sergio Trama

A valorização do indivíduo, independentemente da sua idade e da sua situação de dependência, é um pressuposto fundamental para o desenvolvimento sustentado das sociedades, prevenindo as rupturas individuais e colectivas.

Na II Assembleia Mundial do Envelhecimento que decorreu em Madrid em Abril de 2002, foi ressaltada a necessidade, cada vez mais urgente, de perspectivar uma intervenção a longo prazo que permita a sustentabilidade social de uma população que envelhece, garantindo a inclusão social ao longo de toda a vida.

Mesmo considerando a profunda diversidade do mundo, bem espelhada ao longo dos trabalhos realizados no contexto da II Assembleia Mundial do Envelhecimento, constitui um dado inequívoco, o aumento das pessoas idosas e muito idosos e a necessidade de criar uma rede de apoio que não só assegure a prestação de cuidados aos mais dependentes como, principalmente, estimule a sua reivindicação esclarecida e o exercício consciente da cidadania.

O aumento da participação social das pessoas idosas representa, deste modo, um objectivo das medidas de intervenção mas, também, um instrumento de regulação social, funcionando como um barómetro das reais necessidades e contribuindo para uma maior conformidade e resultados das respostas.

Só as pessoas, destinatárias das medidas, idosas ou mais novas enquanto destinatárias das políticas podem realizar um correcto diagnóstico das carências e desejos sentidos e avaliar a oportunidade e adequação das soluções desenhadas. Só elas, planeando o seu envelhecimento, a título individual e colectivo, podem construir uma sociedade mais justa.

Tal como resultou da IV Conferência Internacional de 2001 da Associação de Casas e Serviços para o Envelhecimento, decorrida no Canadá, e de novo reforçado na já referida na II Assembleia Mundial De Envelhecimento, considera-se que o envelhecimento é uma realidade global que deve ser encarada como um desafio que se coloca ao desenvolvimento dos países, pelo que as pessoas Idosas são um recurso importante para a família, para a comunidade e para a economia em geral.

Neste sentido a intervenção no domínio do envelhecimento deve reconhecer cada vez mais a preciosa contribuição das pessoas idosas para a vida social, cultural e económica dos países, justificando-se uma profunda reflexão em torno da sustentabilidade dos sistemas de segurança social e da dinâmica dos mercados de trabalho, de forma a reestruturar o universo da protecção social sobre os novos alicerces demográficos.

Efectivamente, a Comissão Europeia assinalou, por diversas vezes que, devido ao envelhecimento demográfico, a mão-de-obra tornar-se-á um recurso que devemos gerir com cuidado acrescido. Da referida análise, decorre uma intensificação da procura de mão de obra mais qualificada e dotada de maior empregabilidade, bem como postos de trabalho mais adaptáveis.

Por isso é urgente apostar em medidas que promovam respostas favoráveis às necessidades e aspirações expressas pelas pessoas e pelas estruturas empregadoras e que permitam a participação activa em todos os aspectos da vida em sociedade.

A Comissão das Comunidades Europeias, dando resposta aos constrangimentos apontados, ressalta que, para prolongar a vida activa de um número cada vez maior de pessoas idosas e evitar a sua exclusão do mercado de trabalho, será fundamental preservar e reforçar a sua empregabilidade.

Impõe-se, desta forma, um investimento que se reflecte no projecto que se refere neste artigo, da formação das competências pessoais, sociais e profissionais, na motivação e na mobilidade das pessoas. Devem, igualmente, ser apoiadas e disseminadas boas práticas, no sentido de assegurar uma aprendizagem ao longo da vida.

Assim, o investimento na formação e qualificação, não deve esgotar-se durante o exercício de uma profissão, mas também como forma de apoio à preparação do período de vida que se situa após a reforma.

No cenário de um mundo laboral em mutação onde coexistem reformas antecipadas, situações de pré-reforma, despedimentos massivos, e prolongamento da vida activa, onde se diluem os laços de fidelidade laboral e se fala em segunda e terceira carreiras, é necessário investir cada vez mais numa perspectiva transversal e de formação contínua que permita a aquisição ou treino de competências pessoais e sociais de desenvolver estilos de vida activos, saudáveis, criativos e integrados.

É, pois, necessário que se proceda a um envolvimento total de todos os indivíduos na vida da organização, promovendo uma conciliação da lógica económica com a lógica social, no sentido de banir formas de exclusão social e desenvolver novas práticas de participação intra empresa.

É neste contexto que a preparação para a reforma deve ser perspectivada como elemento que urge considerar em estratégias de recursos humanos que privilegiem o factor humano, isto é, que coloquem o indivíduo – decisivo para a modernização – no centro da acção respeitando os seus valores. Se assim não se actuar, parece que se poderá caminhar para uma degradação sociocultural (em que se perde solidariedade e viveres quotidianos) que terá necessariamente repercussões de ordem económica.

A obtenção de melhoria da competitividade das organizações (das empresas, em particular) passa por três vectores: avanço tecnológico, recursos humanos qualificados e organização participada. Nesta última, os indivíduos não podem ser encarados como meros instrumentos ao serviço da organização, mas deve antes dar-se ênfase à sua dimensão de suporte da eficácia socio-organizacional, com repercussões ao nível da rentabilidade.

Ao preocuparem-se com a qualidade de vida dos seus colaboradores, não só enquanto trabalhadores, mas também após a cessação do vínculo laboral, as empresas têm-se revelado receptivas para fortalecer ou implementar a responsabilização ética, como forma de reconhecimento pelos serviços prestados e contribuindo para o crescimento e desenvolvimento de toda a sociedade valorizando as células do tecido empresarial, as pessoas.

Preparar a reforma, no actual clima de instabilidade do mercado laboral, pode promover segurança e a noção de perspectiva. Numa palavra, cria condições para o colaborador se sentir mais realizado como pessoa e melhorar a sua prestação nessa entidade ao longo de toda a vida.

Os Planos de preparação para a reforma podem ainda contribuir para a conciliação das perspectivas económicas de competitividade com as perspectivas individuais de desenvolvimento e com as perspectivas colectivas de coesão social, fomentando, numa palavra, a qualidade de vida das pessoas envolvidas e a cidadania empresarial num nível mais intermédio, assim como toda a sociedade em geral. É desta forma fundamental que as pessoas sejam assim envolvidas na elaboração das políticas de gestão de recursos humanos, em qualquer fase das suas carreiras, mas nesta ordem de ideias de forma preponderante também nos últimos tempos do vínculo à entidade.

O que se pretende com iniciativas deste género é que, ao revalorizar uma vertente social, se esteja paralelamente a contribuir para uma mudança organizacional necessária às exigências decorrentes do desenvolvimento tecnológico. Esta mudança leva a que a Entidade se adapte e responda às necessidades e novos desafios da sociedade em que está inserida.

A inovação pode ser considerada como uma chave para o progresso, exigindo ser perspectivada como fenómeno integrado, isto é, abrangendo os aspectos técnicos e económicos e ainda os aspectos sociais, culturais e organizacionais. É essencial que se executem novas práticas organizacionais, novos métodos de gestão, onde os todos os colaboradores tenham possibilidade de participar.

Sente-se ainda uma grande necessidade de sensibilizar as pessoas para a preparação do processo de envelhecimento como algo natural, progressivo, dinâmico, em que a fase da reforma que não corresponde necessariamente - como ainda muito se associa - aos anos de velhice e/ou de inactividade.

Este período da vida - cada vez mais longo devido ao envelhecimento da população - deve então começar a trabalhar-se o mais antecipada e atempadamente, com uma abordagem da mudança facilitadora do desenvolvimento ao longo de toda a vida e não como algo de indesejado ou que acarretará perdas mas sim novos desafios oportunidades, ou degradação cognitiva e emocional, em função da abordagem e recursos de que se dispõe.

Estes recursos pessoais e informação sobre áreas bastante abrangentes são parte integrante dos conteúdos e alvo de treino e sensibilização do projecto que o Ministério da Segurança Social e de Trabalho através do Instituto para o Desenvolvimento Social criou.

Neste sentido tem vindo a ser implementado em Portugal um projecto de âmbito nacional e carácter transversal que visa fomentar a Preparação para a Reforma denominado "ReCriar o Futuro".

Dirigido às entidades empregadoras, de todos os sectores, assim como às estruturas representantes dos trabalhadores e entidades com carácter formativo, tem como principais objectivos promover uma gestão de recursos humanos mais prospectiva e o desenvolvimento de acções que sensibilizem para a necessidade de preparação desse período de vida que pode ser sinónimo de realização pessoal e integração recriando a construção social destas cada vez mais representativas camadas da população.

 

O Projecto que apresenta uma perspectiva transversal e integrada pode ser implementado em várias vertentes, tendo uma forte componente de formação. Neste contexto da psicogerontologia do conjunto global de conteúdos propostos nos guias do "ReCriar o Futuro", salienta-se o módulo de desenvolvimento pessoal onde se sensibiliza para a necessidade de preparar uma atitude positiva face à mudança, encarando-se a reforma como fonte de realização e integração de vários aspectos prevenindo-se os impactos que pode ter a variadíssimos níveis principalmente o isolamento social e síndromes depressivos ou comportamentos aditivos entre outros.

 

Esta medida visa assim actuar numa perspectiva preventiva dos problemas psicológicos, mas ao invés de se dirigir às pessoas de forma isolada, envolve as grandes estruturas em que as pessoas estão integradas ou que as representam, de forma a conseguir abranger um número grande de pessoas e de forma que a filosofia da prevenção e inclusão seja uma realidade neste tempo onde podemos criar o que queremos, viver no amanhã vendo cada vez mais a reforma como um processo continuado e não como uma ruptura lá longe, no futuro. Esse período vive-se como se viveu até então.

Alterar a perspectiva da velhice como um período de inutilidade em que a sociedade e as entidades se querem libertar das pessoas idosas - visão ainda comum e tão bem caracterizada pelo autor Argentino Quino tão bem conhecido inclusivé em Portugal - deve manter-se como grande linha orientadora da investigação, intervenção, e prevenção nesta área dos que trabalham com a crença de que é possível, hoje , ReCriar um novo TIEMPO.

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