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Envelhecimento: Processo biopsicossocial
Trabajo monográfico para el
Curso Virtual Educación para el Envejecimiento

Luzia Travasssos Duarte
ltravassos@bol.com.br

Instantes...

Se eu tivesse que começar a vida novamente, gostaria de errar mais vezes.

De relaxar, de ser mais flexível.

Teria mais simplicidade

Poucas coisas faria com seriedade.Correria mais riscos, viajaria mais.

Subiria as montanhas e nadaria em rios.Tomaria mais sorvetes e comeria menos feijão.Talvez agora estivesse com mais problemas.Porém, teria menos ilusões.

Como vê, sou uma dessas pessoas que vivem com sensatez e juízo, hora após hora, dia após dia.Oh! Já tive meus instantes e se os tivesse de novo eu os multiplicaria. De fato, eu tentaria não ter nada além deles. Só os momentos, um após outro, em vez de viver tantos anos sempre à frente dos dias.

Fui uma dessas pessoas que nunca foi a nenhum lugar sem um termômetro, uma garrafa de água quente, uma capa de chuva e um pára-quedas. Se eu pudesse fazer tudo de novo, viajaria com mais descontração.

Se eu tivesse que começar a vida de novo, ficaria descalça bem cedo na primavera e permaneceria assim até o fim do outono. Iria mais vezes aos bailes e freqüentaria mais os parques de diversão.

Escolheria o que fosse mais gratificante...

Nadine Stair, 85 anos de idade.

Louisville, Kentucky

 

Resumo:

O interesse em compreender e evitar a velhice remonta aos primórdios da nossa história. A população mundial de idosos aumenta surpreendentemente, fenômeno explicado pelas descobertas científicas de um modo geral, o que melhorou a qualidade e expectativa de vida da população. É um processo universal e está inter-relacionado aos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. É individual e difere entre as pessoas no que diz respeito à forma de envelhecer, a velocidade e a vivência, pois as alterações físicas e fisiológicas geram mudanças a nível intelectual provocando uma resposta psicológica que é influenciada também pelo meio social em que vive o envelhescente. A vida é um constante processo de modificações e a cada fase de seu desenvolvimento ocorrem transformações múltiplas acompanhadas de seus próprios desafios.

1 - Introdução:

O homem durante muito tempo, no início da nossa história, não se preocupava com o envelhecimento. O tempo médio de vida do ser humano era muito pequeno, devido às condições precárias de vida, a fragilidade diante das doenças, o desconhecimento da etiologia das mesmas, como também eram presas fáceis dos predadores maiores. Mais tarde inicia-se uma luta contra as doenças e a morte e o seu grande desafio, vencer o envelhecimento.O livro da gênese fala que após o Dilúvio as pessoas passaram a viver mais. Vários poetas gregos escreveram sobre a longevidade. Hesíodo (poeta grego que viveu no oitavo século a.C.) descreveu uma raça dourada, constituída por um povo que vivia centenas de anos sem envelhecer e que morriam dormindo quando chegasse o seu dia. Os gregos acreditavam existir um povo que habitava em terras longínquas ao norte e que vivia milhares de anos..

Aristóteles (filósofo grego) e Galeno( médico grego, 129-199 AD ) acreditavam que cada pessoa nascia com certa quantidade de calor interno que iria se dissipando com o passar dos anos, considerando então a terceira idade o período final desta dissipação de calor. Aristóteles (384-332 AC, o mais influente filósofo do pensamento do mundo ocidental) sugeria o desenvolvimento de métodos que evitassem a perda de calor, o que prolongaria a vida, dando um certo cunho científico ao problema. Em diversas culturas conhecemos relatos de rituais, banhos de ervas, banhos de leite, como nos conta a história da rainha Cleópatra, para manter a pele branca, suave e jovem. Na idade média surgiram os alquimistas, considerados os químicos antigos que se utilizavam da alquimia ( arte medieval que procurava descobrir o elixir da longa vida e a transformar qualquer metal em ouro) através de poções mágicas, filtros etc... buscando a imortalidade, a perfeição do ser humano.

Há alguns séculos atrás, o navegador espanhol Ponce de León enlouqueceu em sua exaustiva busca pela "Fonte da Juventude". É uma utopia, pois se trata da busca da vida eterna em um corpo jovem. A maioria dos povos sempre apelou para a fantasia quando procurava a fonte da juventude. Alguns pensaram encontrá-la em longínquas ilhas, outros em rios caudalosos, alguns em extratos especiais extraídos de testículos de cães e outros ainda em ser a longevidade dependente de uma vida reta e disciplinada.

O primeiro trabalho científico sobre velhice, foi escrito por um médico francês no século XIX ( Jean-Martin Charcot, em 1867) intitulado "Estudo Clínico sobre a Senilidade e Doenças Crônicas". Charcot não se preocupava em estudar a imortalidade, mas o processo de envelhecimento, suas causas e conseqüências sobre o organismo.

llya llyich Metchnikov, cientista russo, (1845-1916) prêmio Nobel de Medicina de 1908, acreditava que o processo de envelhecimento era resultado de venenos produzidos no intestino grosso pela deterioração dos alimentos.Preconizava a ingestão regular de leite ou iogurte e o uso freqüente de laxantes, hábitos que deveriam esterilizar o intestino.

A história nos mostra que o desejo em prolongar a vida, retardar ou tentar controlar o envelhecimento é intrínseco ao ser humano, e faz parte de sua procura pela felicidade completa. A busca continua e quanto mais as pesquisas científicas avançam, os processos se modernizam abrindo espaços para que tenhamos uma vida mais saudável e plena, mais o homem deseja a juventude, a beleza, o corpo sarado, buscando concretizar o mito da imortalidade ou da beleza e juventude apesar dos anos, como as ninfas que não eram imortais, mas, permaneciam jovens e belas até a morte. O homem parece não suportar o limite, a velhice e a morte.

2 – Dados demográficos

O segmento da população que atinge a maior idade está crescendo e ocupando um grande espaço na nossa sociedade. Não faz muito tempo, e dizia-se que o Brasil era um país de jovens, parte da população tinha menos de trinta anos de idade. No entanto nos últimos anos vem ocorrendo uma mudança a nível mundial. No Brasil em 1990 havia cerca de 10 milhões de pessoas acima de 65 anos de idade, e há uma previsão para o ano 2025 de 35 milhões de idosos, quando o nosso país ocupará o 6º lugar entre os demais. Hoje, o último censo nos mostra essa nova realidade, em 1990 a expectativa de vida do brasileiro era em média de 60 anos, já em 2000 houve um aumento para 68 anos e 7 meses. Para quem tem hoje 40 anos a expectativa atual é de 73anos e 10 meses, para quem tem 60 anos é 77 anos e 9 meses. Segundo o IBGE as mulheres vivem mais, e a diferença entre homens e mulheres em 1991 era de sete anos e 2 meses, em 2000 foi de sete anos e 9 meses. A menor expectativa de vida do país é a do estado de Alagoas com uma média de 63 anos e 2 meses e a média mais alta situa-se no estado do Rio Grande do Sul com 71 anos e 7 meses. Na Espanha as mulheres que nascerem agora terão a maior expectativa de vida da Europa (82,7 anos), para os homens não é tão estimulante, ocupam o sétimo lugar com uma esperança de 75,5 anos. Os líderes vitais são os Islandeses, com 78 anos. Estes são dados atuais apurados pelo programa de Desenvolvimento demográfico do Conselho da Europa desenvolvido em 43 paises membros e três não membros. Aqui, no Brasil, o setor de Previdência Social deverá ser violentamente atingido, e o setor de saúde, por sua vez está totalmente despreparado para esta realidade, pois ainda está muito voltado para as crianças e os jovens, quando a realidade nos indica novos dados em relação à população da terceira idade, onde já se pensa em criar uma nova faixa etária que seria a 4ª idade, sem falarmos na formação médica que ignora totalmente o trabalho com os idosos. Medidas imediatas e dentro da nossa realidade, deverão permear as mudanças em todos os níveis da nossa sociedade e principalmente do nosso sistema de saúde e previdenciário. Este é um desafio que enfrentaremos para lidar com essa mudança de forma positiva, para que o nosso idoso seja mais saudável.

3 - Processo Biopsicossocial

São muitas as perspectivas através das quais podemos observar, estudar e analisar o processo de envelhecimento. Entre elas as perspectivas: histórica, sociológica, cultural, psicológica, religiosa, biológica, demográfica, nutricional, habitacional, legal etc...

Abordarei o tema enfocando de maneira simples os aspectos biopsicossociais do envelhecimento.Tema que merece posteriormente, um minucioso estudo.

3.1 - O que acontece biologicamente à pessoa que envelhece?

O envelhecimento é um processo que apresenta algumas características:

É universal, por ser natural, não depende da vontade do indivíduo, todo ser nasce, desenvolve-se, cresce, envelhece e morre. A vida é um constante processo de modificações e a cada fase de seu desenvolvimento ocorrem transformações múltiplas acompanhadas de seus próprios desafios.

É irreversível, apesar de todo o avanço da medicina em relação às descobertas e tratamentos das doenças, as novidades farmacológicas, o desenvolvimento de técnicas estéticas etc... nada impede o inexorável fenômeno, nem o faz reverter.

É Heterogêneo e individual, em cada espécie há uma velocidade própria para envelhecer, essa rapidez de declínio funcional varia desmedidamente de pessoa para pessoa e numa mesma pessoa de órgão para órgão.

É deletério, danoso, pois leva a uma perda progressiva das funções.

É intrínseco.

Modificações Gerais:

Modificações Sistêmicas:

Pele: a pele torna-se mais seca, rugosa e flácida, os melanócitos diminuem em número e sofrem alterações funcionais, apele torna-se mais delgada;

Ossos, articulações e músculos: atrofia e substituição das fibras musculares por fibras colágenas, diminuição da espessura dos discos intercostais, anquilose das articulações, desgaste dos ossos da maxilar e mandibular, perda da elasticidade do crânio, perda da massa óssea;

Sistema nervoso: diminuição do peso e do volume do cerébro, diminuição dos neurotransmissores, diminuição dos reflexos tendinosos;

Órgãos sensitivos: opacificação do cristalino, presbiopia, diminuição dos receptores olfatórios e atrofia das papilas gustativas etc..

Sistema cardiovascular: aumento da resistência vascular e da pressão sistólica, diminuição do número de células do nó sinusal e átrio-ventricular,degeneração e calcificação das válvulas etc...

Sistema respiratório: enrijecimento e calcificação das cartilagens traqueais e brônquias, aumento do volume residual pulmonar, maior risco de infecção pela ineficácia dos mecanismos de limpeza brônquica;

Sistema digestivo: comprometimento da mastigação devido à falta dos dentes e as alterações mandibulares, atrofia da túnica muscular do tubo digestivo, diminuição das células das glândulas digestivas, diminuição do número de hepatócitos etc...;

Sistema urinário; diminuição do peso e do tamanho dos rins, diminuição no número de néfrons, diminuição da musculatura vesical e da uretra, dificuldade dos rins em excretar ácidos;

Sistema endócrino: atrofia das glândulas hipófise, tireóide, paratireóides e supra-renais, atrofia acentuada do timo, diminui a secreção de testosterona, é interrompida a secreção de estrógeno, resistência à insulina e diminuição da tolerância à glicose;

Sistema urogenital feminino: atrofia ovariana, afrouxamento dos ligamentos que mantêm o útero em posição,diminuição do comprimento e largura da vagina;

Sistema urogenital masculino: diminuição dos testículos e da fertilidade, diminuição da dimensão peniana, aumento do tamanho da próstata.

Algumas teorias são propostas para explicar o processo de envelhecimento. Goldstein e colaboradores dividem em duas categorias:

Teorias estocásticas que afirmam ser o processo o resultado da soma de alterações que ocorrem de forma aleatória e se acumulam ao longo do tempo e que são:

1 - Teoria do erro catastrófico, propõe que com o passar do tempo se produziria uma acumulação de erros na síntese protéica, que finalmente determinaria prejuízos na função celular.

2 - Teoria do entrecruzamento, postula que ocorreriam uniões entre as proteínas e outras macromoléculas celulares, o que determinaria envelhecimento e o desenvolvimento de enfermidades dependentes da idade.

3 - Teoria do desgaste, afirma que cada organismo estaria composto de partes impermeáveis, e que a acumulação de falhas em suas partes vitais levaria à morte das células, tecidos, órgãos e finalmente do organismo como um todo.

4 - Teoria dos radicais livres é uma das teorias mais populares. Defende que o envelhecimento seria o resultado de uma inadequada proteção contra os danos produzidos nos tecidos pelos radicais livres.

Teorias não estocásticas sugerem que o envelhecimento seria a continuação do processo de desenvolvimento e diferenciação, que corresponderia à última etapa de uma seqüência de eventos codificados pelo genoma. São elas:

1 - Teoria do marcapasso, onde os sistemas imunológico e neuroendocríno seriam "marcadores" intrínsecos do envelhecimento. Sua involução estaria geneticamente determinada para ocorrer em momentos específicos da vida.

2 - Teoria genética, existem padrões de longevidade específicos para cada espécie animal.

No entanto até o presente, não existe nenhuma teoria que seja completa e explique tudo o que ocorre no referido processo.Há mudanças físicas e fisiológicas definidas durante o ciclo vital. Estas não ocorrem no mesmo grau para todos os indivíduos, há amplas variações individuais. Paralelamente a estas mudanças e perdas normais desta etapa, o organismo torna-se mais vulnerável a problemas de saúde e alguns estão mais relacionados à idade madura, isto é, são mais freqüentes na terceira idade. Podemos citar:

Os fatores de risco para as doenças são:

Algumas destas entidades patológicas podem ser prevenidas ou tratadas de maneira que não signifiquem incapacidade.A partir de uma educação para o envelhecimento, ou seja, partindo da consciência do que acontece ao organismo, é possível a quem envelhece ter uma melhor qualidade de vida. Nesse momento conhecer o que muda no próprio corpo é fundamental para a adaptação. Onde aprender a envelhecer caminha junto a aprender a viver. Mudanças de atitudes permitem um posicionamento mais saudável:

3.2 – Aspectos cognitivos do envelhecimento

Apresento alguns deles:

Mudanças quanto à memória: tem sido consistentemente verificado que a habilidade de relembrar coisas por um breve período de tempo declina com a idade.

Ao mesmo tempo parece que não há um declínio, com a idade, da memória a longo prazo. O reconhecimento de velhos amigos ou acontecimentos passados não é prejudicado, não há declínio das estratégias usuais de solução de problemas ou das palavras do vocabulário, e não há dificuldade no aprendizado de coisas novas contanto que seja dado o tempo suficiente.

Uma vez que algo tenha sido aprendido e a informação tenha sido armazenada, a pessoa idosa é capaz de relembrar da mesma forma como fazia anteriormente.

Habilidades perceptuais: há algumas habilidades perceptuais que mostram uma mudança sistemática em função da idade. Em alguns aspectos, há uma certa semelhança entre o desempenho das pessoas idosas e das crianças pequenas. Por exemplo: As pessoas idosas tendem a reagir a algumas ilusões perceptivas, da mesma forma como as crianças pequenas.

Entre os 50 e os 90 anos há um acréscimo acentuado no grau de ilusão e as pessoas mais velhas exibem um desempenho comparável ao de uma criança de 6 ou 7 anos.

Vocabulário e o raciocínio: há uma grande quantidade de dados mostrando que em testes de vocabulário, informações gerais, reconhecimento de semelhanças e julgamento, os resultados médios dos adultos mais velhos é, ao menos tão bom quanto os dos adultos jovens, quando não são melhores. Assim sendo, os testes que captam a informação acumulada, mostram que, de fato, as pessoas mais velhas possuem um maior acúmulo de informações e que elas não se esqueceram de como usá-las. A habilidade de raciocinar em busca de uma boa solução não é perdida. Contanto que não seja imposto um limite de tempo para a tarefa.

Q.I.: os estudos como um todo sugerem que não há declínio de QI total com o aumento da idade, pode até ocorrer um aumento entre os 50 ou 60 anos. No entanto a partir dos 60 anos pode haver um declínio na avaliação do QI total, talvez porque os testes de QI incluam muitos itens que requerem velocidade, boa memória a curto prazo e acuidade visual.

Concluímos que pode haver um declínio com a idade, em muitas tarefas intelectuais que requerem um excelente funcionamento físico do organismo. Na medida em que o corpo se deteriora num certo sentido, há uma deterioração equivalente no desempenho de tarefas que exigem velocidade ou boa memória a curto prazo. As tarefas que requerem, principalmente a experiência e o reconhecimento acumulado, declinam muito lentamente, se é que declinam.

3. 3 - Diferenças individuais

Há grandes diferenças entre os indivíduos, no que diz respeito ao ritmo e quantidade de declínio no funcionamento físico e nas habilidades mentais.

Tais diferenças parecem advir, em parte, das experiências d urante a meia idade e a velhice, como também provêm, parcialmente, das diferenças na saúde física.

Entre os indivíduos idosos aqueles que são mais saudáveis geralmente também apresentam melhor funcionamento intelectual.

Diversos autores como Riegel sugeriram que não há um declínio no funcionamento intelectual geral até cerca de cinco anos antes da morte, quando há então uma queda final no desempenho.

 

3.4 Influências Sócio-Culturais

Vivemos em sociedade e nela desempenhamos determinado papel que influencia nossas ações e comportamento.

Dependendo da cultura em que vive o idoso ele pode ser considerado um sábio ou um inválido. Nas culturas orientais, o velho é tido como alguém que acumulou muita experiência, e é possuidor de um saber digno de respeito e admiração. Na nossa cultura, ocidental, apesar de depender da educação de cada um, o velho pode ser um trambolho, um tirano, um aposentado sofredor, ou cortejado, se dispuser de boa situação financeira.

Há todo um complicado mecanismo de preconceitos contra a velhice, motivado principalmente pelas bases utilitárias e imediatistas em que está assentada a nossa civilização. E o idoso como quem cumpre sua sina, seu destino, incorpora os estereótipos culturais, significando-os:

3.5 – Aspectos Psicológicos do Envelhecimento

As mudanças que ocorrem durante o desenvolvimento do processo de envelhecimento, são sentidas de forma particular por cada um. As adaptações podem acontecer de forma adequada, saudável ou patológica. Tudo depende da história anterior, da saúde física, do bem estar sócio-econômico e da vivência atual das modificações, perdas e medos.

O envelhescente começa agora a enfrentar no seu dia a dia os fantasmas do envelhecer que o atormentam e se fazem presentes no medo da solidão, do desconhecido e da morte.

Esses fantasmas estão associados às idéias erradas sobre a velhice, herança dos preconceitos sociais cristalizados ao longo do tempo. Idéias estas ultrapassadas, que povoam o imaginário social e a realidade do idoso.

Quando o idoso pergunta-se de que forma pode ser útil, ou o que pode ainda esperar da vida, ou como pode viver, ele já se sente perdendo a sua própria identidade. Passou anos desempenhado vários papéis como filho, estudante, amigo, pai, profissional, avô, além de inúmeros outros, encontra-se agora como que abandonado, desligado, como se cometera um crime, o que é confirmado quando se pergunta o que deve fazer para ser aceito, para ser amado. Essas questões compreendem um aspecto mais profundo, pois existem os problemas de saúde, psicológicos, econômicos que influenciam na sua forma de envelhecer.

Psicologicamente a velhice é descrita como uma etapa da vida capaz de provocar depressão, sensibilidade às doenças, regressão.

Nele são tolerados sinais de retraimento e de depressão que se ocorressem em alguém mais moço provocariam medidas terapêuticas – quimioterápicas e psicoterápicas e um maior apoio ambiental. Esquece-se que os idosos são aqueles que mais tentam o suicídio com a probabilidade de sucesso.

Nas formas de desadaptação costumam aparecer processos de somatização que podem em alguns casos ser extremamente violentos e até levar à morte. Neste processo, o idoso transforma seus medos em problemas físicos, como hipertensão, diabetes, colites ulcerativas, enfarte, asma brônquica, enfisemas, histerias de conversão nas suas diferentes formas de paralisias, cegueira etc... A hipocondria vai se acentuando de tal maneira que acaba por não admitir que o indivíduo tome parte da vida, reduzindo-a a um estado vegetativo. Embora não sejam freqüentes esses casos extremos, essas perdas orgânicas e afetivas podem ser sentidas como insuportáveis e levam ao suicídio. Vale aqui ressaltar a necessidade de acompanhamento psicológico, psiquiátrico ou ambos.

Quase sempre o envelhescente experimenta ansiedade frente ao desconhecido que é a própria velhice, é assaltado por dúvidas medos e freqüentemente a culpa em maior ou menor intensidade por coisas que fez, ou poderia ter feito.

A consciência do tempo passado é implacável, pois coloca em cheque todo um passado e suas realizações, um presente com um tempo com o qual não sabe lidar, não planejou ter e um futuro impreciso e desconcertante, principalmente pela idéia da morte e suas representações.

Em psicologia, dizemos que os medos precisam ser desmistificados, resignificados e elaborados, só assim os enfrentaremos, pois a sua negação transforma-os em nossos inimigos. Muitas vezes o idoso lança mão de mecanismos como a negação para lidar com a angústia, tentando adaptar-se à nova situação que lhe parece insuportável, outras vezes tem consciência de suas perdas, do seu conflito, da sua dor e vai restringindo seu campo psicológico e de ação, isolando-se, embalado por sua solidão deixa de viver situações novas que poderiam ser prazerosas e construtivas. Descobrir novas aptidões, objetivos e ideais. Mas, inconscientemente assume o papel que lhe é oferecido pelo meio, afastando-se dos contatos sociais, festas, reuniões, relacionamentos afetivos e sexuais, identificando-se com o seu suposto agressor, a velhice.

A proposta da educação para o envelhecimento é modificar aquilo que está inscrito no imaginário social a respeito da velhice, colocando em ação toda energia estagnada, mal direcionada e levar o envelhescente a desenvolver o seu potencial de forma criativa, resgatando a naturalidade e a essência da vida.

Atingir a idade madura significa o início de uma nova etapa da vida, que se bem preparada e estimulada pode ser promissora em termos de realizações de projetos, planos e sonhos que foram adiados e que se o idoso considerar o seu potencial de experiência e sabedoria acumuladas terá grandes benefícios.

Velhice está deixando de ser sinônimo de doença e há uma tendência mundial de mudar o nome Terceira Idade para "Idade do Poder" e a idéia é a valorização deste período da vida. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, "o importante é não apenas acrescentar anos à vida, mas sim, acrescentar vida aos anos".

Lembremos que..."Cervantes contava 68 anos quando terminou o Dom Quixote. As melhores composições de Bach aconteceram quando ele já tinha uma idade avançada. Beethoven superou a si mesmo em seus últimos quartetos. Rembrandt passava dos 60 anos quando pintou seus quadros mais famosos,Galileu, aos 72 anos mostrou ao mundo sua obra definitiva, Sigmund Freud, considerado o pai da Psicanálise, escreveu e fez descobertas, até bem pouco tempo antes de sua morte, em 1939 aos 83 anos. A nossa compositora e escritora Chiquinha Gonzaga que escreveu 77 partituras de peças teatrais e mais de 2000 composições em todos os gêneros, compôs a música da opereta Maria, de Viriato Corrêa, aos 80 anos de idade. Rui Barbosa aos 72 anos escreveu a sua famosa "Oração aos Moços", que é uma de suas grandes peças.

Segundo Felipe González "Un viejo que muere es una biblioteca que arde".

 

Bibliografia

1 – Abreu, Elvira. É a idade sim. E daí? Psicologia Atual. Ano I – Nº 9 – Grupo Editor Spagt.

2 - Alvarenga, M. Rogério, Envelhecimento Sob o Ponto de Vista Estético (www.vitamins.com.br/tema1/html)

3 - Bee, Helen. A criança em Desenvolvimento. São Paulo. Harper e Row do Brasil – 1977.

4 - Carvalho, Vládia. O que você vai ser quando envelhecer? Psicologia Atual – Ano VI – Nº 35. Grupo Editor Spagt, 1983.

5 – D. Azevedo, João Roberto – Ficar Jovem Leva Tempo....Um Guia para Viver Melhor – Editora Saraiva. (http://www.ficarjovemlevatempo.com.br/)

6 – D. Azevedo, João Roberto – Privilégio de ser Idoso (jroberto@dialdata.com.br)

6 – Jeammet,P. Manual de Psicologia Médica – Livraria Editora Masson, 1989.

7 – Poletti, Eurique J. – Envelhecimento

8 – Trinidad, M. Hoyl - Envelhecimento Biológico - Capítulo II. Processo de Envejecimiento: sus implicancias biológicas y sociales – Manual de Geriatria

9 – Viguera, Virgínia – Es Útil Aprender a Envejecer? – La Educación para el envejecimiento – Clase 3 -Curso Virtual.

10 - Virginia, Viguera - Los Fantasmas del Envejecer –La Educación para el Envejecimiento- Clase 8 - Curso Virtual

11–Virginia ,Viguera – Prejuicios, Mitos e Ideas Erróneas Acerca del Envejecimiento y La Vejez – Temas de Psicojerontologia – Tema 1

12-Stair,Nadine -Instantes – Poesia (www.secret.com.br/jpoesia/autoria.html#instantes)

Dados Pessoais:

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