Psicomotricidade Relacional
prática clínica e escolar
Suzana Veloso CabralOs textos que reuni neste livro mostram a evolução do pensamento e da prática clínica e educativa vivida durante mais ou menos 26 anos.
Todo este percurso não foi isento de dúvidas, de momentos de questionamento do valor das posições e do enfoque teórico e prático que adotei para o atendimento de crianças desde os primeiros momentos de minha atuação profissional na década de 70.
Em consultório, o atendimento em Psicomotricidade Relacional leva em conta o Inconsciente, mas, sobretudo, age com a intervenção corporal que é específica desta abordagem, que lida com o jogo corporal, tônico, espontâneo e simbólico. Nossa busca de agir desde um nível icônico e indicial, além do nível simbólico, usando a mediação dos gestos, do diálogo tônico, das mímicas, das posturas, da melodia da fala, além das palavras verdadeiras que ajudam o sujeito a desvelar seus fantasmas e, então, poder modificar padrões de conduta repetitivos e sintomáticos, é necessária em vários casos. Estes são predominantemente aqueles em que os distúrbios evolutivos, psicomotores, de linguagem, de tipo psicótico, além dos casos de atraso mental, requerem um tipo específico de transferência que a abordagem da Psicomotricidade pode proporcionar.
Já na escola, a procura de instaurar um espaço para a expressão do sujeito, para a manifestação dos impulsos inconscientes que levam à busca do conhecimento, ligados à afirmação da própria identidade e à superação de conflitos normais do desenvolvimento, tem sido uma constante da prática da Psicomotricidade Relacional. Trata-se de uma abordagem que não se quer exclusiva e nem pretende solucionar todos os problemas que podem surgir na evolução psicopedagógica das crianças. Por outro lado, o fato de a criança ser mais livre e capaz de exprimir o que sente e pensa, vai ajudá-la, inclusive, a assimilar melhor a prática construtivista que muitas escolas têm adotado.
A autora
Diz no prefácio do livro a psicanalista Sandra Kruel:
"É na medida em que a psicomotricidade relacional não está ali para "compreender" a priori tudo o que o paciente traz como material, na medida em que inclui na sua interpretação o "mal-entendido", o "explique-se melhor", é que se denota sua aproximação com a psicanálise. A hipótese do inconsciente implica não só as motivações inconscientes para nossos atos, como também, e na sua radicalidade, que o inconsciente como tal nunca deixará de existir e de nos intrigar com suas produções, em qualquer terapia. É justamente esse enigma que mantém a margem de liberdade que temos enquanto indivíduos."
"(...)Para concluir, ainda chamaria a atenção do leitor para mais um aspecto desse livro, mas agora no que diz respeito ao estilo conciso, enxuto e, por vezes, contundente da autora. Pela precisão característica de seu estilo transparece com facilidade sua formação exemplar como terapeuta. Na terapia psicomotora como na psicanálise, a formação não é determinada exclusivamente pelo estudo teórico rigoroso, mas tem como fundamento a vivência pessoal da terapêutica, sem a qual os conceitos teóricos não se transmitem."