A Criança e o
Infantil em Psicanálise
Silvia
Abu-Jamra Zornig
Sumário do Livro Introdução 1. A inscrição da
criança no discurso social e psicanalítico 2. A sexualidade infantil |
3. Neurose infantil, neuroses da infância
Hans e a constituição da neurose infantil
A angústia infantil
O infantil além da infância4. O originário: um retorno às origens?
O originário na teoria freudiana?
Algumas concepções do originário em psicanálise: Stein, Le Guen e Laplanche5. Psicanálise com crianças: entre a origem e o originário?
Os primórdios da psicanálise com crianças
Melanie Klein e Anna Freud: psicanálise ou pedagogia?
Winnicott e o espaço transicional6. A observação de bebês
A observação de bebês no campo psicanalítico
A observação de bebês e a formação analítica
A criança real e a criança da psicanálise7. A clínica psicanalítica e a criança
Da criança-sintoma
... ao sintoma da criança
Em direção a uma clínica do sujeitoConclusão
Referências bibliográficasCapa: Ediara Rios, a partir de Mulher e pássaro ao amanhecer , de Joan Miró
O psicanalista que recebe crianças em tratamento, e que faz desta prática matéria para reflexão teórica, está sempre empenhado em uma dupla tarefa: em primeiro lugar, e por que o sujeito do inconsciente não tem idade, cabe-lhe afirmar e demonstrar que a análise com crianças é psicanálise ao mesmo título que a análise com adultos. Em segundo, como a análise com crianças é uma prática que traz consigo dificuldades que não estão comumente presentes na análise com adultos, e como exige um tipo de disponibilidade afetiva que aproxime a criança do trabalho analítico, cabe-lhe transmitir sua experiência em análise com crianças justamente no ponto em que ela se distingue da análise com adultos. Em A criança e o infantil em psicanálise, Silvia Zornig desincumbe-se desta dupla tarefa com excelência. A escolha do mirante da questão do infantil em psicanálise permite-lhe afirmar a continuidade entre as práticas psicanalíticas com crianças e com adultos no mesmo gesto com que cuida de demonstrar a especificidade da análise com crianças. Tal concisão, contudo, não provém da busca do rigor doutrinário do conceito, característica de grande parte dos trabalhos atuais sobre psicanálise com crianças, mas da simplicidade adquirida pela freqüência da literatura psicanalítica em sua pluralidade contemporânea, e pela reflexão sobre as encruzilhadas que nela se delineiam. Longe de buscar a univocidade, Silvia nos guia através da polifonia das formulações sobre o infantil redescoberto e/ou construído em análise. Lembra que o passado não é um privilégio do adulto, que a criança também possui um passado, uma infância de sua história, uma pré-história do seu desejo. Ao orquestrar os trabalhos de autores como Winnicott, Laplanche, Lacan, Green, Dolto e Anna Freud, surpreende-nos pelo despojamento de suas análises e pelo alcance de sua sensibilidade clínica.
Octavio Souza
O trabalho de Silvia Zornig constitui-se, sem dúvida, uma obra de referência para todos aqueles que exercem a psicanálise de crianças. Partindo do pressuposto de que a singularidade da clínica com crianças se deve não à imaturidade psíquica destas, como postulava Anna Freud, mas à relação estrutural entre o discurso e o desejo parental e a constituição do sintoma da criança, a autora elabora uma proposta original e inovadora. Não se trata de defender uma psicanálise baseada na conhecida noção da criança enquanto sintoma dos pais, mas sim de propor uma clínica em direção a um mais além da demanda parental. Depois de analisar as mutações que o significante criança sofreu na sociedade ocidental, a autora ressalta como a obra freudiana privilegia ora o conceito de infância, ora o conceito de infantil, o que deu margem a diversas interpretações relativas à clínica psicanalítica com crianças. O antigo debate entre A. Freud e M. Klein sobre a analisabilidade da criança é retomado, contrapondo a posição desenvolvimentista e pedagógica da primeira, à proposta da segunda de uma análise da criança nos mesmos moldes da dos adultos. Fundamentada em Winnicott, colocado por ela entre Klein e A. Freud, Silvia Zornig formula com clareza e originalidade sua proposta de fazer operar uma clínica baseada na possibilidade de conferir à criança o estatuto desejante. Assim, ela defende a posição de que a especificidade da criança não se deve à insaturidade de seu aparelho psíquico, mas ao confronto entre os significantes obscuros que lhe são propostos pelo adulto e que operam como fonte de questionamento. Como conseqüência desta posição, a autora propõe que a criança deve ser ouvida como sujeito do seu próprio discurso, o que significa ouvir também os pais em entrevistas preliminares que permitam ao analista diferenciar a demanda parental do sintoma da criança, possibilitando a esta um espaço privilegiado para elaborar sua questão.
Terezinha Feres Carneiro