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Presentações de livros

O Olhar do Engano
Autismo e Outro primordial

Lia Ribeiro Fernandes

ISBN 85-7137-170-9
176 p., R$ 25,00

Sumário

Prefácio
Apresentação
Introdução
De uma questão clínica a uma indagação teórica
Uma questão clínica
Uma indagação teórica
Capítulo I O conceito de Outro
Introdução
Relatos
O advento do Outro na teoria psicanalítica
O conceito de Outro em Freud e Lacan
Capítulo II As faces do Outro na constituição do sujeito
Preâmbulo
O Outro absoluto
O Outro da alienação
O Outro da separação
O Outro primordial
Capítulo III Olhar e desenvolvimento sexual em Freud
Uma primeira indicação
A teoria do apoio
Algumas palavras sobre o conceito de pulsão
Olhar x teoria do apoio
A noção de investimento libidinal
Uma segunda indicação sobre o olhar constitutivo em Freud
O conceito de narcisismo
A constituição do narcisismo primário e o lugar do outro
Eu ideal e ideal do eu
Considerações finais sobre o olhar constitutivo do outro em Freud
Capítulo IV O estádio do espelho e os esquemas ópticos de Lacan
Preâmbulo
O estádio do espelho
Os esquemas ópticos
O primeiro esquema
O segundo esquema
Algumas decorrências do segundo esquema
Uma pequena síntese
O terceiro desdobramento do esquema óptico
O último esquema
Algumas palavras sobre o objeto a
Observações sobre j
Comentários finais sobre o último desdobramento do esquema
Conclusão: O olhar constituinte do Outro primordial
Iniciando um momento de concluir
De volta ao chiste
Uma rede de termos
Do chiste à criação do sujeito
Os passos do chiste
O Outro que se engana
LAutre maternel  ou a capacidade de surpreender-se do Outro primordial
Do peu-de-sens ao pas-de-sens passos constituintes do olhar do Outro primordial
Reencontrando Marcos
O desfecho
Bibliografia

Prefácio

... os efeitos só se comportam bem na ausência da causa. Todos os efeitos estão submetidos à pressão de uma ordem transfactual, causal, que exige entrar em sua dança, mas, se eles se dessem a mão bem apertado, como na canção, fariam obstáculo a que a causa se imiscuísse em sua roda... A causa inconsciente é um
mh on, da interdição que leva um ente ao ser, malgrado seu não-advento, ela é uma função do impossível sobre a qual se funda uma certeza
.
(Lacan, J., 1964, Seminário XI, p. 124)

Introduzir esse trabalho, dar-lhe um adorno, um prefácio, é uma tarefa difícil, quiçá impossível. Impossibilidade imanente ao tema que ele propõe, qual seja, a questão da origem, ou mais especificamente, do Outro primordial. Impossibilidade que, diferente da impotência, nos propicia trabalhar e refletir sobre o que, a propósito da origem, podemos construir para além
(ou através) do mito. Se o mito serve para responder de forma épica ao que é próprio da estrutura, de fato esse texto nos serve para dar conta do que é a estrutura ou a constituição do sujeito através do conceito de Outro primordial.

Evitando cair em uma realidade em si (seja o social, seja o sentido, seja a realidade físico-biológica), a autora consegue percorrer teórica e clinicamente a questão, sempre a posteriori, da resposta do sujeito frente ao campo do Outro.
Nesse sentido, o Outro, dito primordial, apresenta sempre algo, utilizando a bela expressão do título do trabalho, de um olhar do engano. Olhar definido propriamente como objeto-causa de desejo, já que, longe de trazer garantia de tudo representar, esse objeto introduz uma falta no campo do Outro, abrindo um leque de possibilidade de significações e propiciando, concomitantemente, o que daí vai advir como certeza, a saber, o sujeito.

Diferentemente daqueles que acreditam em um mito de um Outro primordial sem falta, Lia Ribeiro Fernandes tem a virtude de sustentar que o Outro, introduzindo o engano, tem uma dimensão criativa primordial, dimensão sem a qual o sujeito não poderia se constituir. Desvencilhando-se do vício maniqueísta de pensar o Outro em uma dimensão ideal Outro como garantia ou causa única do sujeito a advir a autora, ao pensar clinicamente um caso extremo, do que fenomenicamente denominamos autistas, tenta escapar de um duplo engodo: do lado do campo do Outro, evitar reduzir o Outro primordial à única causa da constituição do sujeito o que levaria a dimensão da culpa , do lado do sujeito, não referi-lo como em déficit (estruturalmente) frente a um desenvolvimento ideal.

Sem, portanto, cair na circularidade culpa/ressentimento, Lia consegue de maneira rigorosa pensar, a partir daquilo que falta, do que tropeça , a constituição não somente de Marcos, um sujeito na condição de abandono , mas também, e a partir desse caso-limite, a impossibilidade constituinte de todo ser falante.

Ana Beatriz Freire

Lia Ribeiro Fernandes é psicanalista e vem atuando na clínica psicanalítica há mais de dez anos. Sua formação acadêmica é psicologia, com especialização em Psicologia Clínica pela USP e Mestrado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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