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Revista Pulsional

Número 145 - Maio de 2001

Editorial

Artigos

Paulo Roberto Ceccarelli, Delinqüência: resposta a um social patológico
Roberto Henrique Amorim de Medeiros
, A repetição concernente
José Moraguès, Arco e flecha. O largar  na adolescência: aceitar perder para ganhar
Leandro Alves Rodrigues dos Santos, Psicanálise e educação: um olhar sobre a
criança-consumidora e a escola nos dias atuais

Clinicando

Luciana Pereira Figueiredo, Angústia no trabalho terapêutico
Júlia Katunda e Filipe Doutel, Manifesto por uma psiquiatria hybrida

Panorama

Contardo Calligaris, Batalha de mitos: casamento ou liberdade?

Clínica do Social

Pedro Luiz Ribeiro de Santi, Montaigne e Freud diante da subjetividade moderna

Dossiê Regulamentação

Deputado Paulo Delgado, Requerimento apresentado à Câmara dos Deputados
Comissão de Brasília, Circular

Livros em destaque

Mauro Pergaminik Meiches, Entre Moisés e Freud. Sobre Entre Moisés e Freud, de Daniel Delouya
Sérgio Telles
, Stoller visita os pornógrafos e os sadomasoquistas. Sobre Porn Myths for the Twentieth Century; Coming Atraction TheMaking of an X-Rated Video; Pain and Passion A psychoanalyst Explores the World of S&M, de Robert Stoller

Congressos, conferências e palestras
Cursos, seminários e grupos de estudo
Notícias
Novidades bibliográficas nacionais
Novidades bibliográficas estrangeiras
Autores deste número
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Não deixa de ser impressionante a importância que os psicanalistas atribuem à psicanálise.

Para nós, o saber freudiano pode contribuir decisivamente para tratar a ordem socioeconômica mundial de seus males fundamentais. É um eficaz instrumento de melhoria da educação em qualquer nível. Explica direitinho o que é ser homem e o que é ser mulher. Esclarece definitivamente o que é ser brasileiro e o que significa o Brasil. É o melhor instrumento que existe para análise de filmes, de livros e de obras de arte. É uma fantástica contribuição à cultura, e perspicaz crítica da religião. Serve para explicar fenômenos os mais disparatados desde os loucos de rua até o autismo.

É um eficaz instrumento de tratamento de doenças que outros especialistas não conseguem tratar como, por exemplo, a histeria maligna. Virou, para muitos, psicossomática, servindo tanto para o corpo como para a alma, desde que se mantenha uma certa cisão entre essas duas entidades. Serve para entender a história e decifrar o futuro. Um sindicato de psicanalistas já foi criado em São Paulo, sintoma de uma nova categoria de trabalhadores oferecendo, em troca de não tão módica mensalidade, carteirinha que serve para pagar meia em alguns cinemas e teatros. E, por último, mas não menos importante, serve, também, para se ganhar dinheiro.

A psicanálise virou panacéia.

Observa-se uma alteração radical na posição do psicanalista, dos tempos de Freud para agora. Enquanto ele relatava seus fracassos clínicos e se apropriava dos saberes de sua época, tentando compreender as manifestações do inconsciente sexual, hoje, os psicanalistas relatam seus sucessos e utilizam a psicanálise para falar e escrever sobre qualquer manifestação humana.

Tome-se, por exemplo, a noção de sujeito. Freud nunca empregou essa expressão, ainda que se possa dizer que há uma noção de sujeito subsumida em seus escritos. Lacan, por sua vez, formula uma noção muito precisa de sujeito que encontra na obra de Freud, pois, é sempre bom lembrar, Lacan era freudiano.

Hoje, os psicanalistas utilizam-se deste conceito com as mais diversas definições. O sujeito é, às vezes, um agente, outras vezes um ser pensante, outras, ainda, um ser cheio de vontades conscientes, outras, mais ainda, máquina desejante. Já cheguei a encontrar, num mesmo texto psicanalítico, oito concepções de sujeito diferentes sendo utilizadas pelo autor. A vagarosa, complexa e interminável formação psicanalítica está dando lugar a um procedimento ready made. A psicanálise é consumida como fast food. A formação baseada na análise pessoal passou a ter data marcada para terminar. Pode durar de três meses a sete anos. A supervisão ou análise de controle foi, primeiro, incorporada à análise pessoal e, depois, simplesmente abolida. O estudo também se faz rapidamente e, muitas vezes, sem levar em consideração a obra de Freud. Afirmo isso como livreiro especializado. O que menos vendo em minha livraria são obras de Freud. Vendo Lacan, Bion, Klein, Winnicott, tudo mais do que Freud.

Outra mudança importante, porque epistemológica, é a criação da teoria psicanalítica. Freud nunca pretendeu desenvolver uma teoria psicanalítica. O que pensava era diretamente derivado de sua prática e era denominada metapsicologia para marcar a continuidade com sua atividade clínica. Hoje, não só existe a teoria psicanalítica como ela está construída, analisada e criticada como se devesse se comportar de acordo com os ditames da moderna filosofia da ciência. Popper e Kuhn servem de guias para essa teoria.

Agora querem regulamentar a profissão de psicanalista e inscrever os cursos não- universitários existentes no MEC transformando-os em cursos de especialização. Poderemos, num futuro próximo, pendurar nas paredes de nossos consultórios os diplomas de especialista, de mestre e de doutor junto com os de graduação, conclusão do secundário e assim por diante. Esses diplomas comprovam, afinal, que somos senhores de nosso e de outros inconscientes sexuais. Poderemos, enfim, dormir sossegados já que fazemos parte dessa categoria tão poderosa da atualidade.

É, de fato, impressionante, a importância que os psicanalistas atribuem à psicanálise.

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