Número 144 - Abril 2001
Dossiê Regulamentação
Sumário
Editorial
Artigos
- Heloisa Caldas, Subjetividade e saber na escrita literária
- Vera B. Zimmermann, O adolescente e a recusa do não saber
Dossiê Regulamentação
- Projeto de lei do Deputado Eber Silva
- Parecer do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro
- Carta do psicanalista Durval Checchinato ao Deputado Eber Silva
- Roberto Yutaka Sagawa, Os limites da lei e da psicoterapia como ética.
- Abaixo assinado de psicanalistas à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal
- Luiz Zanin Oricchio, O embate entre Freud e o Deputado evangélico
- Sonia Alberti, Psicanálise e universidade
- Circular da Associação Brasileira de Psicanálise
Panorama
- Contardo Calligaris, Bigode de madame salva africano morrendo de sono
Clínica do Social
- Márcia Smolka Adena e Maria Augusta Rondas Speller, A psicanálise e as novas configurações familiares
Livros em destaque
- Elisa Maria de Ulhôa Cintra, Estado nirvânico, violenta aspiração do belo: uma teoria da depressão.
- Sobre Depressão, de Daniel Delouya
Congressos, conferências e palestras
Cursos, seminários e grupos de estudo
Notícias
Novidades bibliográficas nacionais
Autores deste número
Normas para publicaçãoEste número de Pulsional Revista de Psicanálise contém dossiê regulamentação reunindo uma série de documentos e manifestações a respeito do movimento desencadeado em psicanalistas pelo projeto de lei apresentado à Câmara dos Deputados pelo parlamentar Eber Silva. Além disso, reproduz o artigo de Roberto Yutaka Sagawa sobre a regulamentação da profissão de psicoterapeuta, publicado no jornal do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
A leitura desses documentos é instrutiva. Ela revela a preocupação dos psicanalistas em assegurar um estatuto de objetividade para sua atividade clínica. Tal preocupação se insere no amplo e sistemático movimento científico, cultural e político visando a erradicação da subjetividade que teve início, no mundo ocidental, a partir do século XVII e foi ganhando força ao longo do tempo.
Num mundo regido pela razão iluminista e instrumental, onde o modelo racionalista do desempenho eficiente é o único critério de reconhecimento social, onde o único conhecimento legítimo é o científico/tecnológico, não há mais lugar para as tradicionais manifestações significantes do psiquismo: o ato falho, o chiste, o devaneio, o sonho, o sintoma, o pathos. Com disse certa vez, para mim, um dirigente da ciência: Você se dedica a coisas sem importância .
De fato, essas manifestações deixam de ser consideradas significantes, fontes de pensamento criativo constitutivo de experiências existenciais e vêm sendo consideradas, cada vez mais, como um estorvo, fonte de incômodo e sofrimento. Congruentemente com o princípio do prazer, o humano se volta, então, para a erradicação dessas manifestações buscando, na ação objetiva, um instrumento capaz de eliminar a indesejável subjetividade.
O procedimento de erradicação da subjetividade no mundo ocidental é extremamente complexo e variado e vai desde modos estabelecidos, convencionais, de apresentação da informação científica que excluem, precisamente, aquele que narra e sua historicidade, como se os autores do conhecimento não estivessem implicados como sujeitos de seus discursos, até ações militares concertadas contra populações consideradas fanáticas e, portanto, inimigas desta civilização objetiva e racional.
O que se observa, entretanto, é uma recusa da realidade: Nós, os humanos, constituímos uma espécie subjetiva, mas, mesmo assim, ignoramos essa característica fundamental e passamos a nos tratar objetivamente .
A regulamentação da profissão de psicanalista e de psicoterapeuta é manifestação particularmente evidente desse mecanismo perverso. Com ela, tornamos objetivo aquilo que é procedimento eminentemente subjetivo e, assim, reduzimos o campo de manifestação daquilo que particularmente nos incomoda em nossa atividade: nossa subjetividade e a dos clientes que nos procuram. Poderemos, com a regulamentação da profissão, colocar nossos diplomas e certificados nas paredes das salas de espera de nossos consultórios revelando, por meio desses objetos, a nossa condição objetiva eliminando a incerteza, o enigmático e o inusitado próprios da subjetividade.
Neste caso, entretanto, vale a frase atribuída a Galileu Galilei quando acusado pela Santa Inquisição de estar atribuindo à terra e aos astros uma mecânica e uma dinâmica próprias. E pur si muove , teria dito o astrônomo italiano.
Pulsional Revista de Psicanálise
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