Palavras de apertura
Taciana de Melo Mafra
Caros amigos,
É com muita alegria que cumprimento a todos vocês, em nome do Toro de Psicanálise, efetivando a expectativa que há quase dois anos soergueu-se, quando tomamos para nós a tarefa de preparar este encontro. Com muito esmero estivemos trabalhando para concretizar a Reunião Lacanoamericana de Psicanálise do Recife, que começa agora, e que redireciona mais um passo do projeto encadeado em Caracas, com o propósito de produzir a Psicanálise no trilho dos efeitos da letra de Freud e do ensino de Lacan.
Esta é a hora da abertura. A abertura no nível do discurso é o que se relança, o velho e o novo. Portanto, no ponto de partida vai sempre bem uma boa mitologia. Então quero contar-lhes uma história: Há quinhentos anos, (comemorados no ano passado) quando as naus portuguesas ancoraram na Terra de Vera Cruz, encontraram os dóceis índios tapajós. Pois bem, havia muita estranheza causada de um lado ao outro. Basta dizer que aqueles que já estavam, andavam nus em pêlo, enquanto que os que atravessaram os mares usavam roupa demais e perucas.
Esse foi um encontro profícuo, do qual uma nação se ergueu, embora sem que tudo tenha sido amistoso.
Quero lembrar esse encontro, mitologia brasileira, que recomendo percorrer nos escritos de Capistrano de Abreu. Quero lembrá-lo, pois ele fala dos efeitos do encontro com o estrangeiro, tal como Freud nos atestou em seu unheimlich, que é sempre propulsor da escrita de um novo significante.
Tais encontros são sempre cheios de inquietações e de equações produtivas. Todas as vezes que estão em jogo muitas línguas parece que uma diversidade de possibilidades se insinua, penso sempre que é para isso que se presta o significante Lacanoamericano, para apontar o novo, o resultado das permutas e das combinatórias múltiplas.
Mas, o Lacano 2001 ressoa produzindo significações relativas a tempos. Primeiro, porque 2001 é um ano que foi apreendido, muito antes de seu transcurso, como representação de futuro, como tempo de realização de imagens antecipadas. Foi assim que Stanley Kubrick ao som de Strauss fez valsar o sonho da criação humana.
Criação franqueada por aquele que, através dela, tem a sua imortalidade evocada nesse encontro, cunhado por seu nome, e no qual queremos comemorar o centenário de seu natalício. Jacques Lacan viveu em nosso tempo, com ele estiveram muitos que estão entre nós, mas avistou além da contingência, fornecendo os instrumentos fundamentais com os quais sustentamos nossas clínicas. Quero sublinhar nesse momento o nome de Jacques Marie Èmile Lacan em sua homenagem.
Além da data e do significante Lacanoamericano encontra-se em todos os registros dessa Reunião, o nome Recife. Então, mais uma vez fico remetida ao tempo, desta vez o da transmissão do ensino lacaniano nesta cidade. Há trinta anos, nesta cidade, entrecortada por belos rios e cercada por arrecifes, inscreveu-se o significante Lacan entre aqueles que buscavam saber do inefável. Através de Jacques Laberge e Ivan Corrêa inaugurou-se nesta cidade a releitura de Freud, a partir dos ensinamentos lacanianos.
Portanto, aproveitemos esses dias de 2001 para brindarmos juntos, trabalhando, cem anos do nascimento de Lacan, marco de origem das idéias que vieram consolidar um século de Psicanálise.
Teremos 208 trabalhos apresentados durante quatro dias, em 4 línguas seguindo o dispositivo da Reunião Lacanoamericana de Psicanálise. É uma grande alegria experimentar as facetas da singularidade, assistir à renovação, ao desdobramento da obra de Freud e de Lacan na produção de cada um que com seu estilo, em nome próprio veio participar da Reunião Lacanoamericana de Psicanálise do Recife. Sejam bem vindos!
Taciana de Melo Mafra,
Membro fundador e Coordenadora Geral do Toro de Psicanálise.
Editora da Revista Antígona, do Jornal de Psicanálise "Escrituras" e dos Cadernos de Psicanálise ECO.
Autora de artigos publicados em diversas Revistas de Psicanálise e dos livros "Um Percurso em Psicanálise com Lacan" e "A Estrutura na Obra Lacaniana" ambos pela Editora Companhia de Freud.
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