Segunda Reunião Mundial dos Estados Gerais da Psicanálise
a
se realizar no Rio de Janeiro,
entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro de 2003
Constituímo-nos como grupo organizador da II Reunião Mundial dos Estados Gerais da Psicanálise, a partir da realização do encontro de Paris, em julho de 2000. A presença maciça de psicanalistas brasileiros e latino-americanos em geral na reunião, assim como o trabalho realizado no Rio de Janeiro (Encontros Brasileiros de Psicanálise, Workshop Major/Derrida) e em São Paulo, (Encontros Latino-americanos em 1999 e 2001), com a participação de colegas de vários estados brasileiros e dos países vizinhos, levaram à sugestão de que fosse o Brasil, em particular o Rio de Janeiro, a sede do II Encontro Mundial. Assim, este Comitê se constitui dos membros da Plenária dos EGs no Rio de Janeiro e demais membros de outros grupos de diferentes estados brasileiros ligados aos EGs, bem como de colegas de países latino-americanos que sejam representativos entre seus pares, além da coordenação dos primeiros EGs de Paris (convocada por René Major).
O tema proposto é Atualidade no psicanalisar, o que supõe alguma indicação mínima, embora necessária, acerca do que é ser psicanalista hoje. A ênfase é dada à questão da atualidade, na medida em que isto não só permite uma contraposição às concepções teóricas e clínicas anteriores acerca do ato analítico, como também insiste na dimensão política contemporânea, que obriga os modos do ser psicanalista. Alguns dos temas propostos - como, por exemplo, as relações da psicanálise com as teorias da informação e a informática, a genética, as ciências de ponta e a filosofia , seus mecanismos e modos de pensamento têm um caráter estratégico e político específico, ao procurar definir direções táticas que delineiem perspectivas efetivas para os pensares e fazeres psicanalíticos.
I - Sobre as novas formas do modo do ser psicanalítico contemporâneo, a psicanálise implica, permanentemente, acolher positivamente as diversas manifestações nas quais o mal-estar se apresenta. Entendemos que esta seja a modalidade de perfilar as condições atuais da clínica psicanalítica, assim como uma possibilidade de repensar os instrumentos de trabalho dos psicanalistas. Ou seja, enquanto outros saberes e fazeres ditos de ponta procuram eliminar tudo o que possa causar mal-estar (a Unbehaglichkeit, segundo Freud), os psicanalistas sabemos que só existem modos de constituição de subjetividade que incluam o que se denomina de mal-estar. A existência da Unbehaglichkeit e seu acolhimento na clínica são perspectivas que balizam e limitam a Psicanálise, num século que acredita eliminar as pequenas diferenças.
II - Uma reflexão rigorosa dessas formas do pensamento psicanalítico exige que se considerem quais novos saberes e fazeres e que outros agentes devem ser reconhecidos como parceiros da aventura do psicanalisar. Isto não implica apenas uma discussão transdisciplinar na própria psicanálise, como também no mapeamento das práticas psicanalíticas que se fazem fora do espaço liberal clássico de atendimento clínico, que presidiu até recentemente as reflexões sobre o que são a Psicanálise e suas práticas.
Será possível pensar que as bases sobre as quais se fundamentou historicamente a formação do psicanalista ainda são suficientes para tal fim? A partir de Freud, a Psicanálise se fundamenta nos conceitos de resistência, de transferência e de sexualidade infantil. Serão estas ainda nossas balizas para definir o que é ser psicanalista hoje?
Mas temos questões que supõem distinções importantes. Isto porque a maioria dos psicanalistas, no mundo inteiro, psicanalisa em espaços institucionais distintos dos consultórios privados. É preciso abrir um lugar para pensar o que é ser psicanalista diante das novas formas explicitadas de gênero sexual, de estruturas de parentesco, das outras interfaces do individual e do coletivo. As modalidades de atendimento psicanalítico massivo estão a nos exigir uma reflexão e experiências de transformação radicais.
Será também ocasião para refletir acerca dos acontecimentos contemporâneos de tortura institucionalizada e do terrorismo, de formas coletivas de brutalidade que foram convenientemente silenciadas pelo establishment psicanalítico.
III - O que implica um debate não apenas sobre as relações da Psicanálise e dos psicanalistas com o Estado, como também uma ampla discussão acerca das novas propostas da regulamentação oficial da Psicanálise como atividade profissional. O que nos coloca uma questão: o estatuto da psicanálise leiga ainda é viável? Ou seria a análise leiga um resíduo de um velho sonho de práticas liberais? Com efeito, tal discussão não se restringe apenas, a saber, o que é a Psicanálise no seu regime teórico, pois se formam e instauram instituições, em nome do saber psicanalítico, que nada têm a ver com o mínimo indicado por Freud (resistência, transferência, sexualidade infantil), mas que conseguem uma legalização diante do Estado.
IV - Impõe-se também um debate específico sobre as relações da Psicanálise com as mídias. Pois as modalidades e condições de presença dos psicanalistas nos meios de comunicação massivos, na maioria das vezes, implicam não apenas uma versão edulcorada e diluída para o grande público, como procuram seduzir indiretamente uma clientela. Isto tornou, muitas vezes, impossível distinguir a Psicanálise de práticas confessionais e de auto-ajuda e forjou-a como um saber e uma prática pontuais, que responderia diretamente a perguntas, o que é uma negação completa do campo psicanalítico. Por outro lado, isto também nos obriga à indagação, de modo rigoroso, de como é possível veicular os discursos e fazeres psicanalíticos para o público, sem abandonar a radicalidade das nossas concepções.
V - Multiplicam-se hoje as propostas de clinicar através das redes de comunicação e, especialmente, através da Internet. Como se inscreve a psicanálise nesse contexto?
VI - As neurociências ocupam um lugar estratégico no campo do mal-estar contemporâneo. A psiquiatrização e medicalização do social avançam quotidianamente, impondo novas fronteiras e limites. De que formas e com que modos a Psicanálise se inscreve por relação a estes novos limiares? Como se coloca diante destes novos fatos e fazeres, tais como a clonagem, a reprodução humana e a produção de novos órgãos e corpos?
VII - Devemos pensar acerca da Psicanálise na Universidade, na medida em que tal institucionalidade se faz cada vez mais potente e disseminada. Quais as condições em que o ensino da Psicanálise se dá na Universidade? Quais as relações entre uma tal produção e a clínica psicanalítica? Como seria a produção de um saber sobre a Psicanálise, dissociada da prática clínica?
Juntamente com a especificidade dos temas propostos, a construção desta temática é pautada por uma ênfase no político, pois sabemos que este é constitutivo na idéia dos EGs. Vale dizer que temos que percorrer um espaço situado nas bordas das institucionalidades constituídas, o que nos situa como hospedeiros de questões, atuais e vitais, de pensamentos e fazeres analíticos já antigos.Além dos temas propostos, os EGs apresentam, por seu modo específico de organização, a discussão quanto a institucionalidade. Ao se organizar como rede, privilegiam a lateralidade e convocam individualmente, em nome próprio, todos os que desejem participar deste encontro. Com vistas a tecer uma rede cada vez mais ampla de interlocução, pedimos aos interessados que indiquem não apenas seus telefones e faxes, bem como seus e-mails.
Rio de Janeiro, fevereiro de 2002
Chaim Samuel Katz
Eduardo Losicer
Helena Besserman Vianna
Joel Birman
Miguel Calmon du Pin e Almeida
Suelena Werneck Pereira
Para enviar a
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ou qualquer outro tipo de informação, escreva a brasil@psicomundo.com