Voltar a la página principal de PsicoMundo Brasil
I° Encontro Latino Americano dos
Estados Gerais da Psicanálise
São Paulo - 12, 13 e 14 de Outubro 2001

Crónicas do encontro

Sexta-feira 12 de outubro - de manhã

Mesa 10: O Mal-estar na globalização e a psicanálise

Resenha de Malu Homem

Abordou-se o tema da complexa relação entre psicanálise e o social. Haveria interlocução? Como seria? O social implica o analista pois faz parte do dia-a-dia da clínica? O psicanalista é um ser social e político, um cidadão - que implicações isso teria em sua prática clínica?

A psicanálise deveria manter um intercâmbio com o não-saber, esteja ele em que campo estiver, dos outros saberes ou do próprio campo psicanalítico.

Discutiu-se sobre a subjetividade contemporânea. Por exemplo, fazer a crítica do "cliente especial", aquele que faz compras em um "lugar de gente feliz".

Estamos em uma cultura narcísica do espetáculo.

A memória se torna obsoleta.

O sujeito consumidor se transforma em objetos de consumo (como os passageiros dos aviões sequestrados nos EUA). E objetos marionetizados.

Outra questão: o que os psicanalistas têm a dizer em público? (por exemplo, no Forum Social Mundial).

Os psicanalistas apontariam para o não global, seriam especialistas em falhas que contestam a totalização .

Foi discutida a relação eu-outro e os efeitos de construção e produção ou destruição e intolerância. Como se manter no nível de um pensamento complexo e não cair em simplificações dualistas do gênero o bem vencerá o mal?

Do debate, pareceu haver um acordo que o conceito de pulsão de morte é fundamental mas deve ser retrabalhado para se que se retire suas implicações de forma mais ampla e operativa.

Os entrevistados ao longo do dia marcaram a diversidade dos trabalhos apresentados e o alto grau de discussão assim como o elevado nível dos debates.

Resenha de Maria Teresa Martins Ramos Lamberte

Curiosamente os quatro expositores e os dois debatedores desta mesa estiveram em Porto Alegre em janeiro de 2001, no Fórum Social Mundial, participando na Oficina de Psicanálise, cujo tema era "O mal estar na globalização".

Evidentemente os autores e mesmo os debatedores têm se ocupado com as interfaces e mesmo a transmissibilidade da psicanálise a outros campos do conhecimento, marcadamente uma busca suscitada pelas condições que se figuram em nosso contemporâneo. Neste sentido, as questões trazidas nos trabalhos confluíram para o exame dos efeitos da pós modernidade na subjetividade, colhidos e atualizados a cada dia na clínica, a psicanálise como campo "sensível", digamos, aos restos (a questão do mal estar e o sofrimento humano) que escapam e problematizam as sempre renovadas promessas de felicidade. Promessas estas revestidas e re-significadas a cada momento histórico com os valores da época, portanto em suas modulações culturais, que não cessam, no entanto, de circunscreverem repetições em torno de âmbitos essenciais como os enigmas da morte, da sexualidade e da crença. Justamente a grande empreitada civilizatória da cultura, é se haver com esses aspectos existenciais do humano nestas questões em aberto, nas quais a cultura é o que se vai inscrevendo, deixando suas marcas.

A psicanálise, ao deter-se com a subjetividade e a ordem do particular de cada um sempre, desde Freud deteve-se também nas indagações sobre o mal estar na cultura. Nesta perspectiva e neste eixo, colocado desde Freud, as questões neste debate situaram-se nas articulações do particular e o universal, a pulsão de morte, o lugar do analista, a condição da promessa. A psicanálise não confronta a busca da felicidade, nem as promessas da cultura, busca sustentar um campo aberto de acolhimento para o que possa ser perguntado, por cada um, sobre seu desejo e seu sofrimento, para além das respostas e palavras de ordem sobre determinadas, seja da cultura, família, estado, religião,etc. Também não está na cultura tampouco como uma ideologia ou outra forma de religião, nem destituindo as referencias de cada um, mas sim acolhendo, escutando e propiciando condições, sem garantias, através de um dispositivo clínico, de que cada um possa sustentar suas decisões frente ao que lhe falta.

Foram examinados ainda aspectos sobre o lugar da psicanálise na cultura e sua condição de diálogo com outras áreas do conhecimento, a tarefa talvez , dos psicanalistas na transmissão sobre a ordem da alteridade e o convívio com a diferença, seja na própria experiência de cada um, seja na disposição para sustentar o debate e as indagações que daí emanam.

Retornar a pagina principal do I° Encontro Latinoamericano dos Estados Gerais da Psicanálise

Para enviar a agenda de atividades de sua instituição,
ou qualquer outro tipo de informação, escreva a
brasil@psicomundo.com

PsicoMundo - La red psi en Internet