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Reminiscencia: "Redordar é Viver"
Trabajo monográfico para el
2° Curso Virtual Educación para el Envejecimiento

Antonia Maria de O. Sena dos Santos
nine@mma.com.br

"A lembrança é a sobrevivência do passado."
E. Bosi

RESUMO: Este trabalho apresenta um resumo do tema Reminiscência estudado no 2o Curso Virtual de Educação para o Envelhecimento destacando suas várias funções e a sua importância para o reforço da auto estima e o fortalecimento da identidade do idoso. Relata também as vivências ocorridas na abordagem desse tema durante as atividades realizadas num grupo da 3a Idade em comemoração a datas significativas como o Dia da Criança e a festa cívica de emancipação do município

Definição de termos: reminiscência, vivência, 3a Idade

1.INTRODUÇÃO

"A lembrança é sobrevivência do passado." Assim comenta Bosi em seu livro Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos ( Bosi,1987) analisando o pensamento de M. Halbacks sobre a reconstrução do passado. O passado conservando – se no espírito de cada ser humano, aflora à consciência na forma de imagens – lembranças, continua Bosi. Para Halbachs ( Bosi, 1987), na maior parte das vezes lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar com imagens e idéias de hoje as experiências do passado. É ainda Bosi quem diz.:"A memória não é sonho, é trabalho, por isso o velho não se contenta em aguardar passivamente que as lembranças o despertem. Ele procura precisá –las, interroga outros velhos, conta aquilo de que se lembra, se interessando pelo passado bem mais que o adulto".

Para Siguan (2001), à medida que avançamos na vida, nossas lembranças aumentam sem cessar. Mas estas lembranças não estão soltas, se organizam em função da relação que guardam conosco mesmos e constituem a história pessoal lembrada. Esta organização pessoal do pasado inicia – se já na primeira infância, chega à adolescência e continua por toda a vida, ocupando mais espaço na velhice devido talvez à pequena margem de liberdade do idoso para imaginar o futuro.

Foi o psiquiatra norte americano, Robert Butler que a partir das entrevistas para investigar a saúde dos velhos descobriu a evidente vantagem terapêutica da reminiscência e que em seu artigo sobre "The Life Review" defendeu a necessidade de encarar a reminiscência como normal e saudável...(Thompson,1992) pois o ato de recordar o passado era considerado como patológico, como fuga da realidade pelos gerontólogos da época. Segundo o mesmo autor, recordar tanto as boas lembranças de alegria, afeto e realização como as lembranças de sofrimento é fundamental para o nosso sentimento de identidade pois pode fortalecer ou recapturar a autoconfiança.

Um dos preconceitos que pesam sobre o idoso é o de que recordar o passado é nocivo e é sinal de deterioração mental.

Bosi nos diz que ao terminar o tempo de experiências significativas a sociedade empurra o idoso para a marginalidade e este busca em outras épocas o significado e o alento para sua vida atual. Este vínculo com o seu passado traz alegria e a chance de mostrar sua competência por ter suportado e sobrevivido a tantas coisas... (Bosi, 1987). Para uma sociedade que muda numa velocidade incrível onde o que ontem era novidade, hoje já está ultrapassado, recordar o passado é dar passos para trás. Por isso ao falar de suas lembranças o idoso aborrece com o excesso de experiência que quer aconselhar, providenciar, prever. Se protestamos ou não lhe damos ouvidos, pode calar – se e se retrair. Este encolhimento é uma perda, um empobrecimento para todos. Ao contrário, sua vida ganha finalidade se encontra ouvidos atentos, ressonância (Bosi, 1987).

Viguera (2001) diz que a reminiscência é a função que permite recordar pensando ou relatando fatos, atos ou vivências do passado. Salvarezza (200) a define como uma atividade mental organizada, complexa e que possui uma finalidade instrumental importantíssima: a de permitir ao sujeito reafirmar sua auto estima quando suas capacidades psicofísicas e relacionais começam a perder vitalidade".

É uma atividade psíquica universal, necessária no envelhecimento.É saudável porque favorece a integração do passado ao presente, lhe dá continuidade, reforçando a sua identidade.

Thompson, em a Voz do Passado – História Oral (Thompson, 1992), mostra como a reflexão sobre o passado pessoal e a aceitação de mudanças podem ser essenciais para a preservação da auto identidade diante das transformações características do ciclo vital. Para ele, a reminiscência contribui para o envelhecimento na medida em que o idoso encontra espaço para individualmente ou em grupo refletir sobre sua vida com a intenção de reorganizar e reintegrar aquilo que o está preocupando, e também para exprimir seus sentimentos.

Às vezes, o ato de recordar pode ser usado como uma forma de fugir da realidade buscando fixar – se nos fatos do passado, constituindo se então num elemento patológico uma vez que desvia a pessoa da sua realidade – é a reminiscência obsessiva. A reminiscência é também classificada como narrativa, instrumental, integrativa e transmissiva segundo as suas características.

São as seguintes as funções da reminiscência:

Favorece a integridade – porque relaciona o passado ao presente constituindo – se em uma vivência de continuidade de história de vida.

Reforça a identidade e aumenta a auto estima - porque ao recordar o passado, a pessoa se reconhece como única em todas as etapas da sua vida. Percebe – se como o mesmo apesar das mudanças advindas com a idade. Pelas perdas e pelo preconceito o idoso pode sentir - se ameaçado em sua auto estima. Ao sentir – se só nesta etapa da vida, encontra novas forças ao recordar com outros os fatos da sua vida.

Permite dar outro significado a algum acontecimento traumático efetuando uma releitura destes fatos de forma menos dolorosa.

Estimula a elaboração das perdas

Recordar na idade avançada fatos do passado é uma demonstração de que até este momento se sobreviveu à morte, é o triunfo de uma história de vida cheia de vivências.

Ajuda a manter a memória coletiva ao transmitir os fatos do passado às novas gerações.

2. RELATO DE EXPERIÊNCIA

A nossa experiência com o tema da reminiscência não chegou a ser um trabalho sistematizado. Iniciou – se nas discussões dos temas do primeiro Curso Virtual Sobre o Envelhecimento quando refletimos a respeito do preconceito de que recordar é nocivo e um sinal de deterioração com um grupo de Terceira Idade que participa do Projeto

"Dez Passos para Viver Melhor" implementado pela Secretaria Municipal de Assistência Social na cidade de Sapeaçu, Bahia, Brasil, no qual desenvolvemos atividades de Biodanza 1 (Toro, 2002) aulas de educação para o envelhecimento, caminhadas, e outras atividades. Dentro desta variedade de atividades se comemoravam as datas significativas.

Este trabalho oportunizou três momentos distintos quando trabalhamos de maneira informal com o tema da reminiscência. O primeiro foi na festa em comemoração à emancipação política do município quando o grupo foi convidado a participar do desfile cívico cujo tema foi Sapeaçu : Passado, Presente e Futuro.

Ao invés de comparecerem apenas como figurantes, os participantes, após recordarem em subgrupos a história da cidade onde se incluíam e reconheciam lugares, personagens e fatos da sua época, confeccionaram um grande painel com figuras, fotos, recortes de jornais que levaram em todo o percurso do desfile. Além de integrarem o passado com o presente, de poderem ser testemunhas daquele passado e estarem, através do painel, transmitindo a história às novas gerações, vale comentar o que se passou no interior dos subgrupos quando levantavam a memória da cidade, em termos de conteúdos psicológicos. Uma participante falou emocionada do seu sonho de desfilar quando criança mas que não chegou a realizá -lo porque não teve acesso à escola. Na semana seguinte ao avaliarmos todo o processo, a mesma falou da sua alegria por ter realizado seu antigo sonho.

Outro momento marcante também foi quando comemoramos o Dia do Trabalho. Após refletirmos sobre o valor do trabalho, da contribuição que os idosos deram e podem continuar dando, algumas pessoas colocaram seus sentimentos sobre as difíceis condições de trabalho na sua época, como se sentiam exploradas e desvalorizadas. Por ser um grupo mais de 80% de mulheres, trabalhamos a questão da mulher e trabalho.

Na segunda parte do encontro que é a vivência de movimento, o grupo lembrou e cantou as canções do período do plantio e da colheita, dos mutirões, do corte da lenha, da lavagem de roupas nos rios. Por fim dançamos a Dança do Trabalho 2 quando pudemos expressar com os gestos toda uma vida de trabalho, alegrias e dores.

Em comemoração ao dia da criança foi proposto que em pequenos grupos os participantes procurassem recordar as brincadeiras, músicas e peraltices da infância. Após este momento, espontaneamente as pessoas se colocavam no grande grupo sobre o significado desta atividade e que elementos encontraram em comum. O resultado foi culturalmente rico e muito divertido pois descobriram as semelhanças e diversidades dos jogos e brincadeiras de uma região para outra e pudemos trocar as experiências. Numa atmosfera de alegria e descontração os grupos se apresentaram com muita vitalidade numa verdadeira integração da criança que um dia foram e o idoso alegre e vital que podem continuar sendo.

Finalizando, constatou – se através da expressão, do movimento, da vitalidade, do desejo de expressar – se e da alegria durante estas atividades a correlação positiva entre reminiscência e a adaptação positiva à velhice, graças à conservação da auto estima e a consolidação do sentido de identidade como coloca Viguera (2002) citando Butler.

3.BIBLIOGRAFIA

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. Editora Universidade de São Paulo, 2a Edição. São Paulo, 1987.

SALVAREZZA, L. Psicogeriatria. Ed. Paidós.2ª edição. Buenos Aires, 2002.

SIGUAN, M. Envejecimiento y Memoria Personal. In: Seminário:Temas de PsicogerontologiaII.Classe3.Internet:www.psiconet.com/tiempo3/reminiscencia.htm

THOMPSON, Paul. A Voz do Passado – História Oral. Ed. Paz e Terra.Rio de Janeiro,1992.

TORO, Rolando. Biodanza. Editora Olavobrás/ Escola Paulista de Biodanza, 2002.

VIGUERA, Virginia G de. La Reminiscencia: Suporte de Identidad en el Adulto Mayor.em Rev. Tiempo 3, Set 1999. Internet: www.psiconet.com/tiempo

_________Reminiscencia y sus Funciones. II Curso Virtual de Educação para o Envelhecimento. Classe 10 internet: www.psiconet.com/tiempo

Santo Antônio de Jesus, Bahia-Brasil 30/11/02

Antônia Maria de O. Sena dos Santos

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